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Entrevista com Alberto Rezende - Bloco II

Atualizado: 9 de fev. de 2023


Na segunda parte da entrevista com Alberto Rezende, o radialista fala sobre política, história de Itaguara e futebol. Acompanhe:



SN – Voltando à temática da rádio e para encerrar esta questão, dói você estar fora da emissora?

AR – Dói muito. Acho que a gente poderia ter ajudado muita gente durante a pandemia, por exemplo. A rádio fechada não ajudou ninguém. E como já disse, até hoje não sei o motivo do fechamento e por que as pessoas não se mobilizaram para resolver essa questão.


SN – Agora, queria mudar de assunto e abordar a política local. O que você acha da política itaguarense?

AR – Acho que a política local é muito parada. Ao contrário de outros lugares e cidades até próximas de nós, a gente vê que Itaguara não tem sequer candidatos que pleiteiam o cargo. Não tem oposição organizada e contundente. Importante lembrar que, anteriormente, Itaguara era muito diferente. UDN e PSD disputavam ardentemente as eleições em Itaguara. De um lado o grupo do Paulo Rezende e de outro o grupo do Doutor Jacy de Morais Lima e do Doutor Antônio Geraldo de Oliveira.


SN – Você se lembra desses momentos?

AR – Lembro bem. As brigas, no bom sentido, eram intensas. Dentre as figuras políticas, havia também o Benedito Santos, que era coletor em Itaguara, o Maurício Parreiras, o Juca do Ilídio. Pedro Rosa um dia desafiou o Paulo Rezende, que era amigo do Magalhães Pinto. Um dia o Pedro Rosa pediu ao Paulo Rezende para conseguir a sua transferência de Itaguara (ele era da coletoria estadual em Itaguara) porque os filhos estavam crescendo e precisava estudá-los. Paulo o ajudou e ele foi transferido para Igarapé. Houve um discurso de despedida, inclusive. Acho que hoje falta mais autenticidade na nossa política em Itaguara. Não temos uma briga política no bom sentido em Itaguara. Isso é ruim. Faltam argumentos dos dois lados visando ao melhor para a cidade.


SN – Por que você acha que Itaguara não propicia disputas políticas mais intensas e autênticas como você diz?

AR – O Chumbinho (atual prefeito) deu dois passeios contra candidaturas frágeis. Eu acho que os prefeitos de Itaguara, isso eu digo historicamente, não fazem questão de criar lideranças. Talvez porque queiram se perpetuar no poder, não sei. Mas o fato é que faltam lideranças em Itaguara. A última grande liderança política construída em Itaguara, na minha opinião foi o prefeito Alisson Diego, que não foi feito por nenhuma liderança política, mas foi forjado no colégio, no movimento estudantil, etc. Os políticos de Itaguara não criam liderança e isso é lastimável.


SN – O que você acha da política estadual e nacional?

AR – Acho que o Zema vai bem e tenta ser um pouco o Tancredo Neves, comendo pelas beiradas. A grande vantagem dele é que colocou o pagamento dos servidores do estado em dia. Isso foi uma grande coisa. Mas não acredito que ele possa ser presidente. Acho que a liderança da direita brasileira hoje é o Tarcísio Gomes de Freitas (Governador de SP). Pode até ser que o Zema surpreenda, mas hoje eu não acredito. São Paulo é um estado eminentemente de direita.


SN – Você se considera de esquerda ou de direita?

AR Eu sou de direita e acho que a direita hoje não significa mais tortura e mais perseguição. O Juscelino era um homem de direita. Tanto que votou em Castelo Branco no afastamento do Jango.


SN – Permita-me discordar. O afastamento de Jango foi circunstancial e talvez JK tenha se equivocado nesta questão, mas Juscelino não era de direita. Inclusive, não fosse o Marechal Lott, que organizou um contragolpe, JK sequer teria tomado posse em 1955 porque a extrema-direita e parte da direita não queriam o Juscelino e a dobradinha PTB-PSD de novo no poder. JK foi o típico político centrista, herdeiro do trabalhismo, um político ponderado que uniu o país em torno de um plano de modernização da economia. Mas, enfim, eu queria que você dissesse como vê o cenário político nacional?

AR – Vejo como um cenário confuso e obscuro. Veja o ministro da Defesa, o José Múcio, ele era da antiga direita, origens da Arena, isso apesar de o pai dele ter sido perseguido pela ditadura, o Armando Monteiro Filho. É estranho e não sei se tem coerência essa escolha do Lula. Então, avalio o cenário nacional como sombrio. De todo modo, eu acredito que o Lula pode até fazer um bom mandato porque ele é muito hábil e está procurando a unidade nacional.


SN – O que você acha do governo Bolsonaro?

AR – Acho que ele perdeu a eleição por ignorância dele. O grande problema dele foi a condução da pandemia. Mas acho que ele até fez um bom governo em alguns pontos. Na economia, não foi mal. Inflação de 5,9%.


SN – Agora, vamos falar de um tema que você gosta bastante. Por que um mineiro convicto como você foi se tornar palmeirense?

AR – Ah, mas essa é fácil. Por volta de 1956, o meu irmão, o Antônio Gonzaga, era Fluminense doente, então não tinha bairrismo de torcer pra time de Minas. E naquela época o Botafogo e o Palmeiras levavam os melhores jogadores de Minas Gerais. Tanto que o Botafogo até hoje tem uma torcida imensa na Zona da Mata e o Palmeiras no Sul de Minas. Outro fato é que sou de 21 de novembro e no dia 18 de novembro de 1957, o Palmeiras perdeu para a Portuguesa Santista por 4 a 3. Era um rádio ruim, de válvula. O jogador Mazzola (campeão pela seleção brasileira em 1958) naquela partida me inspirou a ser palmeirense. E tinha uma tradição por aqui de ter um time em Minas e outro no Rio ou em São Paulo. Em Minas, não torço para time nenhum, mas torço pelo êxito do futebol mineiro.


SN - Você gosta muito de futebol?

AR – Não apenas de futebol, mas de vários esportes. Futebol o primeiro, indistintamente, mas também me agrada muito o atletismo, voleibol, o basquete e o tênis. Quando comecei a gostar de esportes, a Maria Esther Bueno era a maior do mundo, uma brasileira. Em 1959, o Brasil também estava muito bem no basquete e foi campeão do mundo naquele ano. Agora, preciso destacar também que, para mim, lutas e Fórmula 1 não considero que sejam esportes.


SN – Você sempre gostou também de acompanhar a seleção?

AR – Sempre. A Copa de 58 não dava pra acompanhar muito bem porque as transmissões eram muito ruins, mas em 1962 eu acompanhei toda. Lembro até hoje que naquela Copa, ouvíamos os jogos ali onde era a casa do Juca Vitalino (onde hoje é a casa do Iale). Ele colocou na porta um rádio grande com alto-falantes. Muita gente se concentrava ali. Outras pessoas faziam o mesmo. Lembro bem até hoje que as quartas de final, quando o Garrincha acabou com o jogo e o Brasil ganhou da Inglaterra por 3 a 1, era um domingo à tarde, a gente acompanhou a partida na casa do Pedro Silva, por um rádio instalado com alto-falantes, lotou de gente. Nesta Copa ainda, teve um fato interessante. Era decisão entre Brasil e Tchecoslováquia e o sogro do Lindorifo Prata Lima morreu, o Sinhô. O sepultamento foi marcado para às 14h00, justamente na hora do jogo. Chamaram o Lindorifo para o enterro e ele disse com bom humor: “Enterro tem todo dia, mas Copa do Mundo é de 4 em 4 anos”. Pode perguntar o Bira que ele te conta. O Lindorifo era uma pessoa espetacular. Mas sobre o futebol itaguarense, o Lindorifo foi um grande nome juntamente com o João Flor. Foram dois grandes treinadores e dois grandes personagens de Itaguara. Quando o Conquistano Futebol Clube estava mal, buscavam o Lindorifo e ele, com o seu jeito informal, mas disciplinador dava uma sacudida no time. Já o João Flor era o oposto, colocava um paletó e ficava na beira do campo dando instruções aos jogadores.


SN – Esqueci de lhe fazer uma pergunta no bloco anterior, mas quero lhe fazer agora, antes de retomarmos a temática sobre futebol. Quais personagens itaguarenses você destacaria na história da cidade? Gente que você conheceu e que ficou marcada na história da cidade.

AR – Há bons e memoráveis personagens. Eu poderia citar vários. Mas vou tentar enfocar uns 4 ou 5 mesmo correndo o risco de ser injusto. Tenho muitas saudades do Raimundo Lara (o “Mundinho”, que foi prefeito da cidade na década de 1960). Dizem que numa época difícil de Itaguara, o Mundinho chegou a tirar dinheiro do bolso para fazer vale para funcionários. Na área religiosa, importante destacar o Dom Miguel Ângelo Freitas Ribeiro, que levou o nome de Itaguara até Tocantins como bispo e depois voltou pra cá e é bispo em Oliveira hoje em dia. Também destacaria o Doutor Nely de Moraes Silva, importante advogado na capital, articulador da emancipação política de Itaguara e o irmão dele, o Wandy de Moraes Silva, que ajudou muito a cidade na área da saúde. Ainda na saúde, foram marcantes os médicos Jacy de Morais Lima e Antônio Geraldo de Oliveira. Na área social, merece destaque o Paulo Rezende, se tem um Lar do Idoso e a Vila Vicentina, deve-se a ele. E na área da educação, a Dona Zali merece menção. Ela incutiu em muita gente aqui o desejo de ler, de escrever, de buscar o conhecimento. Na literatura, também mencionaria a Neusa Sorrenti, que também eleva o nome de Itaguara, mas ela está num patamar menos local ou regional, como os outros que citei. Neusa está num patamar estadual ou nacional. Referi-me aqui mais àqueles que construíram suas vidas mais aqui em Itaguara ou na região. Esses itaguarenses todos que citei merecem destaque a meu ver.


SN – O futebol mudou e se tornou muito mercantilizado. Isso lhe incomoda?

AR – Incomoda muito. Tanta gente morrendo de fome e jogadores ganhando milhões. Veja o Cristiano Ronaldo com um contrato de um bilhão! É um absurdo! Mas o que a gente pode fazer? É difícil. A gente gosta de futebol.


SN – Alberto, o Pelé, recentemente morto e celebrado foi realmente o maior jogado do mundo na sua opinião?

AR – Foi, a meu ver foi sim. Eu o vi jogador por três vezes. Numa derrota do Santos para o Cruzeiro por 6 a 2, na decisão da Taça Brasil de 1966, mais precisamente em 30 de novembro. Depois, em 1968, num jogo do Atlético com o Santos. Um empate por 2 a 2. Isso depois de o Atlético ter aberto 2 a 0. Pelé fez um dos gols e empatou a partida que estava aparentemente perdida. E a terceira vez que presenciei o Pelé foi na exibição da seleção brasileira em 05 de setembro de 1969. Atlético versus o Brasil. Dois a um para o Atlético. O gol da seleção brasileira foi o Pelé que fez. Acho que as homenagens ao Pelé foram até subestimadas diante de tudo o que ele foi no futebol e fora dele.


SN – Então, para você, Pelé foi maior que o Messi?

AR – Ah, foi. Certamente. Até mesmo o Maradona foi melhor que o Messi. A bem da verdade, Maradona não jogou em times espetaculares como o Messi. Ele jogou no Napoli, um time normal. Portanto, o primeiro de todos foi Pelé e depois, muito abaixo, foi Maradona. E aí mais abaixo ainda vem os outros.


SN – Você guarda alguma tristeza na vida?

AR – O falecimento dos pais sempre é difícil. Mas estavam com idades avançadas. Minha tristeza mesmo foi a perda precoce do meu irmão Antônio em 2008. Conversávamos todos os dias e éramos muito próximos. Algum tempo depois, eu estava fazendo campanha eleitoral e fui tomar um café na Bútua quando uma pessoa me disse: “Uai, você está fazendo campanha pela manhã, tem de fazer igual ao seu tio Paulo Rezende, que visitava as casas à noite”. Daí me dei conta de que haviam partido o meu irmão e o meu tio. Aquilo foi um baque.


SN – E alegrias...

AR – Houve várias. Tanto em minha vida pessoal, quanto na vida comunitária. Como eu já mencionei, foi um dia histórico a instalação da CEMIG aqui. Não me esqueço até hoje que o meu pai pediu à minha mãe na ocasião para manter as luzes acessas a noite inteira. Antes mal, mal dava para ouvir rádio. Depois, o rádio ficou limpinho e aquela faísca se transformou em luz verdade. Foi muito emocionante. Foi uma grande alegria. A cidade comemorou. Teve baile na cidade e a presença do Cassino de Sevilha (uma banda musical) na Praça da Matriz. O deputado Celso Passos esteve aqui para a inauguração. Toda cidade de Minas teve a instalação da Cemig naquela época, a gente sabe, mas independente disso, foi realmente histórico.


SN – O que você espera do futuro seu e de Itaguara?

AR – Eu sonho que Itaguara continue no seu ritmo de crescimento em todas as áreas. Não queria ver uma Itaguara grande com 100 mil habitantes e desestruturada. Queria uma cidade sem exageros e com tranquilidade e crescimento com planejamento. A educação aqui é boa, a saúde também. Espero que tudo isso só possa melhorar. Sobre mim, eu espero um futuro risonho, apesar dos meus 73 anos. Continuar a ler, estudar, viver bem.


SN – Qual último livro que você leu?

AR – Cinquenta Tons de Cinza. E gostei bastante. Também li dois livros do Mário Sérgio Cortella.


SN – Deixe a sua mensagem final para as nossas leitoras e nossos leitores.

AR – Fico muito feliz em conceder essa entrevista para um veículo de comunicação que já nasce com um nível tão elevado. Fiquei tão emocionado com o convite que até disse a meus filhos que iria conceder essa entrevista. Mas a mensagem que eu deixo a todos os leitores e leitoras de nossa região que leiam e prestigiem o Sagarana Notícias. Não é um site apenas regional apenas, é da nossa região, mas para o mundo. Colunistas de qualidade, matérias enfocadas aqui, ou seja, é a partir daqui enxergar o mundo. É algo importante para quem mora aqui na região e importantíssimo também para quem está longe daqui para regar o pertencimento à terra. Quem está à frente do Portal Sagarana é gente de extrema responsabilidade e competência e merece a nossa leitura, o nosso prestígio. Desejo, então, vida longa ao Sagarana Notícias. Agradeço a oportunidade desta entrevista e envio meu abraço a toda a comunidade de Itaguara e região. Muito obrigado mesmo pela oportunidade. Fiquem com meu abraço.

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