O Portal Sagarana Notícias segue vivo e não cabe só em mim
- Alisson Diego

- 6 de jul.
- 5 min de leitura
Faz cerca de dois meses que comecei a escrever para a Itatiaia. Desde então, alguns amigos e leitores têm me perguntado, com aquela ponta de curiosidade e afeto: “E o Sagarana? Você abandonou?” Entendo a pergunta. É natural. Desde que assumi essa nova fase como colunista e comentarista na rádio e no portal de notícias, minhas publicações por aqui deram uma pausa. Vou ser direto então: o Sagarana Notícias nunca saiu dos meus projetos. Nem da minha cabeça. Muito menos do meu coração.
O Portal Sagarana Notícias (SN) não nasceu por vaidade. Não nasceu para ser palco de autopromoção, nem arena de disputa política. Ele nasceu de uma inquietação (com a ausência de uma mídia verdadeiramente independente na cidade) e de um compromisso comunitário em levar conteúdos de qualidade e dar voz aos itaguarenses. Idealizei o portal ao lado do Duander Vinícius, hoje chefe de gabinete do prefeito de Belo Horizonte, com um propósito claro: abrir janelas para Itaguara.
Porque Itaguara não pode se fechar sobre si mesma. Nossa cidade não é uma ilha, nem um burgo, muito menos um feudo. O Sagarana Notícias é, antes de tudo, um projeto coletivo. Um espaço para que os itaguarenses possam se expressar, escrever, ler, pensar o mundo e pensar também a nossa terra. Um portal para mostrar Itaguara ao mundo e para mostrar o mundo a Itaguara. Sem amarras, sem filtros, sem concessões.
Desde o início, fizemos questão de manter o portal limpo, apartidário e independente. Nunca aceitamos publicidade e pretendemos continuar assim. Não é por dinheiro que fazemos esse trabalho. Aliás, nunca recebemos um centavo. Pelo contrário. Gastamos para manter o site no ar, cobrimos outras despesas e, principalmente, doamos o que há de mais escasso hoje em dia: o tempo. O Sagarana Notícias existe por convicção. Existe por amor à palavra e ao nosso lugar. Existe porque acreditamos que Itaguara tem muito a dizer, muito a mostrar, muito a pensar. Apesar de tudo e com tudo.
Mas voltando à Itatiaia, preciso dizer que, para mim, estar ali é um orgulho imenso. Cada coluna que escrevo, cada comentário que faço nos programas da rádio, é também uma oportunidade de levar o nome de Itaguara e da nossa região para outros cantos de Minas e do Brasil. E faço isso com consciência e com alegria. Não é por acaso que, sempre que posso, falo de Itaguara nos programas. Porque é assim que sou: itaguarense até demais.
Mas há coisas que não cabem no microfone, nem nas colunas dos grandes portais. Há coisas que só cabem no silêncio do interior, na profundidade das nossas serras, na simplicidade das nossas ruas. É por isso que sigo aqui, no Sagarana Notícias. Este é o nosso espaço. Um lugar onde a gente pode pensar sem pressa, escrever sem amarras, refletir sem medo. Cada vez que me sento para escrever para o SN, é como se estivesse conversando com as pessoas que conheço, olhando nos olhos dos meus conterrâneos e amigos. É um encontro. Às vezes, um reencontro.
Hoje, especialmente, está me batendo uma saudade. Uma vontade de falar do que é nosso. Estamos na semana do Festival de Inverno de Itaguara. Quem me conhece sabe o quanto o festival significa para mim. Eu me lembro perfeitamente dos primeiros Festivais em 2001 e 2002. Era um tempo criativo, cheio de sonhos, cheio de possibilidades. Havia o mês inteiro de atividades relacionadas ao festival e a gente ficava ávido por participar. Participei fazendo teatro, junto com a Companhia Vidas em Artes, coordenada pelos primos Helimar e Valdeci Silveira. Levamos ao palco uma peça escrita pela Dona Maria Geralda Costa, que recontava conversas entre Guimarães Rosa e personagens itaguarenses, dentre eles o meu bisavô João Batista. Foi tão bonito. Foi tão forte. Era Itaguara se descobrindo, no palco e na palavra.
O Festival de Inverno foi uma iniciativa importante, fruto do olhar sensível do então prefeito Bira, Ubiraci Prata Lima, e da secretária de Cultura, Dona Terezinha Mary. Foi uma semente que, com o tempo, floresceu. Mas, como toda semente, precisa de cuidado. O Festival de Inverno e Gastronomia precisa ser, antes de tudo, um encontro de Itaguara consigo mesma. Não pode ter o foco apenas nos shows. Porque show, como dizia uma prima, é vento. O vento leva. Leva o dinheiro, leva o alvoroço, mas o que fica mesmo é outra coisa.

Tenho alegria de dizer que, nas minhas duas gestões como prefeito de Itaguara, o Festival de Inverno cresceu e se transformou num evento grande, do tamanho que a nossa cidade merece. Fizemos questão de possibilitar que o itaguarense tivesse acesso gratuito a grandes shows, algo que, até então, só acontecia, e com muito custo, no rodeio. Trouxemos artistas como Nenhum de Nós, Pouca Vogal com Humberto Gessinger, Ira!, Zeca Baleiro, 14 Bis, Detonautas, entre outros. Mas o festival nunca foi só música. Trouxemos também orquestras, teatro, oficinas de astronomia, de culinária, de gastronomia, passeios rurais e até descobertas no Rio Pará. Era Itaguara se abrindo para o mundo e, ao mesmo tempo, redescobrindo a si mesma.

O Festival precisa se reafirmar como um reencontro com a nossa identidade, com a nossa cultura, com o que temos de mais bonito, mais verdadeiro, mais profundo. É preciso oportunizar outras possibilidades para os itaguarenses. Mais do que os shows pop que já estão nas rádios. Precisamos de programação com orquestras, mais peças de teatro (sim, no plural), oficinas diferentes (e para todos os públicos) e que durem o mês inteiro de julho. Trazer as universidades, as escolas, as comunidades rurais, a dança, as manifestações folclóricas e culturais. Só assim o Festival de Inverno será o que sonhamos um dia: cultura viva, acessível e enraizada. Não o vento frio de julho, que passa.
Quem não se lembra do forno de barro, construído com tanto cuidado por itaguarenses, em parceria com a Escola de Belas Artes da UFMG e com o talento generoso do nosso artista e conterrâneo José Antônio? Aquilo era símbolo, era gesto, era identidade posta à vista. Infelizmente, o forno foi derrubado. Assim como o Museu Sagarana, que, aos poucos, foi sendo deixado de lado. Não digo isso para alimentar nostalgia ou ressentimento. Digo por que cultura exige zelo. Exige continuidade. E exige coragem para entender que o que parece pequeno, às vezes, é o que sustenta de verdade a memória e o pertencimento de um povo.
Preservar a cultura não é só cuidar do que se constrói de barro, de pedra ou de madeira. É também cuidar do que se constrói com palavras, com ideias, com pensamento. O Sagarana também é isto: um espaço de encontro, de expressão, de memória, de crítica, de afeto. Um espaço para pensar Itaguara, mas também para pensar além de Itaguara. Um projeto que nasceu aqui, mas que não se limita às nossas serras. Ele se abre para o mundo. Mostra o mundo para cá. E mostra Itaguara para o mundo.
Hoje, retorno às palavras neste espaço. Talvez com menos frequência porque os dias estão mais cheios e os compromissos se multiplicaram. Mas o sentido de estar aqui continua o mesmo: escrever, refletir, informar. E, acima de tudo, não esquecer de onde venho. Porque ninguém se constrói sozinho. E ninguém se constrói sem raízes.
Itaguara segue comigo, onde quer que eu vá. E o Sagarana Notícias também. Porque esse projeto não é só um portal de notícias e artigos, é parte da nossa história. Enquanto for assim, enquanto houver palavra, enquanto houver memória e vontade de pensar, o Sagarana Notícias seguirá.
O portal segue aberto. Para todos as leitoras e leitores. Abertíssimo também a quem quiser escrever e quem quiser propor, sugerir, criticar. Porque o Sagarana Notícias é de todos nós. E vai continuar sendo. Sem cabresto, livre, faceiro. Como as andorinhas que rodeiam a nossa Praça da Matriz. Liberdade e afeto não se negociam.
O Sagarana vive.





linda lembrança!!!
O Festival de Inverno perdeu a sua essência.