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Cidades



Volta e meia, meu olhar a me vigiar. Meu radar interno tá on, captando imagens de um tempo "jaz" esquecido.


Vi a casa cair. Vi a fachada antiga passar por cirurgias de harmonização facial. Vi também o vácuo que ficou depois da retirada dos "corpos concretos" e "membros de alvenaria". Faces da memória. Escritas que levaremos para o túmulo.


O passado a me interrogar sobre a sobrevivência do presente. Um rasgo nos sobrenomes.

E quando eu precisar das marcas do tempo para me lembrar de quem eu sou? Quando a história precisar do mapa da mina? Onde encontrar quem pariu Mateus? A sabedoria já decretou: se pariu, que o embalem, confere?


Num simples caminhar pela moderna e desenvolvida cidade – que de nova e desenvolvida só tem os looks nas lojas e os códigos de barras – ainda é possível mergulhar em suas essências. Ainda. Raros obeliscos a se deteriorarem ao relento, na depreciação natural do tempo.


–⁠ Bom dia, Cabana de Madeira? (Eu disse).

– E você, menino? (Respondeu).

– Olá! Quanto tempo. Você está diferente.Por onde andas? Me lembro bem, Otávio, certo? Década de 70, 80...


Está tudo registrado nas tábuas. Sua turma era "dá-pá-virada", as infâncias se traduzindo em liberdades.


Aprender vivenciando, experimentando, sendo, brincando...Você corria muito. Era esperto. Nas brincadeiras de criança, se escondiam, encostando em minhas paredes. Becos escuros, para as caladas da noite. Medo era algo que vocês conheciam, mas enfrentavam com valentia.


Choro, riso, assombro, brigas, mijo, frustrações, vitórias e até os beijos...


Testemunhei sua geração, seu crescimento.Mas fique tranquilo: fica em segredo, fica no silêncio. Fica entre nós. Somos cúmplices de uma existência.


Mas, "cá-prá-nós", turma barulhenta a sua. Acordavam os vizinhos e, uma vez, até ouvi a sirene da polícia.É, eu sei de coisas...Eu mesmo só dormia tarde da madrugada. Bom te rever!


Eu, já crescido e com grisalhos a decorar a cabeça e a barba, acompanhei as palavras da Cabana, revivendo cada rosto, cada olhar. Revivendo experiências.


Me despedi, saudoso.Segui com outros passantes que caminhavam por ali. O tempo urge.

O imóvel me fez pensar:

– Ser cooperativa é uma solução para muitos.

Que a gente se sinta interligado por elas, então. Em rede.


Sócios de uma memória-patrimônio.


Filho de quem? Almeida ou Caiapós? De charrete ou de trem?


Não dá pra jogar no lixo nossa história. Pelo menos, conservem as fachadas. Aplica o modelito vintage, cool!


É possível ser moderno sem perder o clássico.


Educação patrimonial também é sinônimo de requinte.


Sigam refletindo. Eu fico por aqui, divagando.

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