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O Bonito é Não Estar Pronto



“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.” (Guimarães Rosa)


Esse trecho, registrado na obra Grande Sertão: Veredas, reflete a alma rosiana. O mineiro Guimarães Rosa, em sua literatura, nos apresenta uma realidade por vezes quebrada. Essa ideia de inteiro, finito, perfeito, penso que não é bem a vibe do Bardo.


Existe, nos personagens e em suas narrativas, algo que foge à métrica. E desafia inclusive os acadêmicos. Cabe mistério em cada ponto, como as contas de um terço rezado no sussurro.


Eu observo e tento me silenciar. Por vezes até me cancelar, bloqueando comentários vazios, por vezes gratuitos. Uso desses versos de Rosa, que causam reflexões bíblicas, na medida em que a vida é renascimento, para dizer até breve, já finalizando esse ano de 2025. Se atentar para o que é vivo e o que já morreu me parece a tônica do momento; afinal, obras inacabadas também ficam pelo caminho, ao relento, se deteriorando com temporais ou ao sol do sertão.


Dizem: a cultura é algo vivo. Tradições, ritos, crenças, arte… Algumas civilizações já foram extintas, restando apenas ruínas e pistas do que fizeram de suas vidas, no tempo em que existiram. E nós, o que estamos fazendo de nossas vidas? Quem será o médico que irá nos curar? Vacina? Comprimido? Vai ser cheirando ou meditando? Quem você irá ouvir quando te disserem que você precisa parar?


Movimento não é sinônimo de academia, corpos suados e hormônios borbulhando. Essa mudança de que Guimarães diz me parece não se tratar de algo estético.


Essa construção de personalidade, esse apuro dos indivíduos, me soa como um autocontrole. Existe um bicho, vivo, dentro desse corpo; ele precisa ser adestrado. Domesticado. Não falo de podar liberdade, mas de perceber limites e conter-se. Tratar-se. O bonito está em processar o diferente como algo rico, onde aprendo mais sobre mim.


Se a natureza é composta nas diferenças e multiplicidades de formas e estilos, como em cores e odores, se igualar é perder suas características originais. É não aceitação. A negação do movimento impede a própria dilatação do corpo e da mente.


Em outras palavras, puxar seu próprio tapete e se desafiar a ficar de pé pode acordar outros músculos. Ou curtir o prazer da queda e conhecer outras superfícies e camadas que acolhem seu ser. Evoluir me parece quebrar o mito de que “ninguém muda ninguém”.


Eu penso ser possível, na caminhada, ser tocado por “belezas” que me tiram o fôlego, fazendo com que eu reveja o percurso, confira a bússola e estabeleça outras posturas na busca do domínio de si e na leveza do convívio com o outro.


Nossa geração, nós, vivos que aqui estamos, caminhando entre mortos, nós precisamos mudar. Deixar fluir com amor. Desapegar. E se desculpar com a nossa natureza. Apostando em dias talvez mais pobres em grana, mas tremendamente ricos em qualidade de vida.


Se você ainda não foi, vá pescar. Excelente oportunidade de conexão, e sem celular, recarregando suas baterias biológicas.


Abraços, bons encontros de fim de ano e bora viver. Até 2026. Fui.

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