Os termos "racismo ambiental" e "racismo climático" ganharam destaque na mídia nacional nos últimos dias, após a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ressaltar a relação desses fenômenos nos eventos climáticos extremos que afetam comunidades étnico-raciais vulneráveis no Rio de Janeiro. Essa expressão, introduzida por Benjamin Chavis, reconhecido afro-americano, escritor, jornalista e ativista, destaca a interseção entre as pautas ambientais e os movimentos por justiça racial.
É vital compreender que esse debate vai além das dicotomias políticas entre esquerda e direita, transcende as meras disputas conceituais e representa um dos maiores desafios contemporâneos: a preservação da vida no planeta. Deve-se dizer de maneira clara: a comunidade científica reconhece o conceito de discriminação ambiental e climática como uma ideia que destaca que, embora as alterações climáticas tenham impacto global, afetando todos os habitantes do planeta, são os indivíduos com recursos financeiros, condições habitacionais e infraestrutura mais limitados que experimentam os efeitos mais severos e enfrentam maiores impactos durante eventos climáticos extremos.
Não é recomendável conceder visibilidade a políticos extremistas, no entanto, é importante destacar a declaração de um deputado federal associado a uma legenda radical. Ele desqualificou os conceitos de racismo ambiental e racismo climático como meras "narrativas" em uma plataforma de mídia social. O parlamentar afirmou: "Essa gente da esquerda é adoecida. Será que é assim quando a nuvem fica densa e escura?"
Esses não são "termos da esquerda" e não devem ser achincalhados por quem simplesmente prega o negacionismo como tática política. A esse respeito, disse o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida: “O fato de alguém desconhecer um conceito ou mesmo discordar de forma fundamentada – o que é totalmente legítimo, especialmente no campo da ciência – não apaga o fato de que o conceito existe. Uma simples olhada nas ferramentas de busca mais populares da internet nos levam a inúmeros artigos que tratam do tema”.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também comentou sobre o tema: "A política pública precisa integrar novas linguagens, que sejam capazes de objetivamente dar nome às demandas, e o racismo ambiental é uma das realidades que precisam ser enfrentadas. Eventos climáticos extremos atingem toda a população, mas é um fato que pessoas pretas, mulheres, crianças, jovens e idosos são duramente mais afetados."
Na 26ª edição da COP, líderes do movimento negro e indígena brasileiros destacaram a importância do reconhecimento e respeito aos territórios ancestrais como parte essencial da luta pela justiça ambiental e climática. O Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz alerta que o racismo ambiental perpetua desigualdades socioambientais, prejudicando comunidades marginalizadas e privando-as de recursos naturais e serviços ambientais cruciais. Essa segregação se materializa em lixões, poluição do ar e falta de acesso à água potável em áreas de baixa renda, evidenciando as conexões diretas entre desigualdade racial e impactos ambientais adversos, uma realidade visível nas comunidades periféricas majoritariamente compostas por negros.
As tragédias climáticas recentes, como as noticiadas chuvas na Baixada Fluminense, revelam uma combinação perigosa de condições climáticas extremas e desigualdades socioeconômicas, enfatizando a urgência em abordar o problema. O impacto do racismo ambiental nas populações marginalizadas é evidente em favelas construídas em áreas de risco, expondo os residentes a inundações e deslizamentos de terra. A falta de acesso a serviços básicos agrava ainda mais esses problemas, resultando em uma qualidade precarizada.
Comunidades indígenas e quilombolas, frequentemente situadas em áreas de alto valor ecológico, também sofrem os efeitos adversos do racismo ambiental. Apesar de seu profundo conhecimento dos ecossistemas, essas comunidades são frequentemente excluídas do processo de tomada de decisão, destacando a necessidade de medidas que garantam sua participação ativa.
Por isso, entende-se que para combater o racismo ambiental, é necessário que as políticas públicas levem em consideração as desigualdades sociais e econômicas e sejam capazes de garantir a participação efetiva das comunidades afetadas. Ademais, a promoção da educação ambiental e o reconhecimento do conhecimento tradicional são fundamentais para enfrentar esse desafio complexo.
A luta contra o racismo ambiental e climático transcende, além das questões ambientais, envolve a defesa dos direitos humanos e a promoção de justiça social - é uma das grandes lutas da humanidade nesta primeira metade do século XXI. A conscientização, a articulação entre os movimentos sociais e a implementação de políticas públicas inclusivas são passos essenciais para que este grave problema contemporâneo seja superado.
Não é negando a existência de um conceito científico que a sociedade conseguirá resolver os seus problemas, muito pelo contrário, ao negá-los, a classe política faz o que sempre fez ao longo da história: negligencia a desigualdade, naturaliza o racismo, desprestigia a questão ambiental e obstrui a construção de soluções eficazes.
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