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Além dos nomes, é preciso discutir ideias: os rumos de Itaguara na eleição de 2024


Quando me mudei para Itaguara em 2007, fiquei surpreso com o cenário político apático da cidade. Em comparação, lembro de exemplos de maior engajamento político em outras cidades. Por exemplo, em 2012 Piracema lançou três candidatos a prefeito e, mais recentemente em 2020, Carmópolis teve quatro candidatos disputando a prefeitura. Já em Itaguara, pelo menos no período em que moro aqui, nunca houve mais do que dois candidatos concorrendo em uma mesma eleição. Ou seja, Piracema, uma cidade quase 50% menor que Itaguara, consegue apresentar uma maior diversidade política e participação popular do que temos visto por essas bandas.


Aparentemente, a eleição de 2024 terá uma dinâmica um pouco diferente, com vários candidatos surgindo para concorrer à prefeitura. Pelo menos cinco nomes estão se destacando como alternativas. Inicialmente, isso representa um ganho em termos de opções. No entanto, o que me surpreende é a concentração do debate em torno das figuras dos candidatos, em vez de focar nas ideias e na visão para a cidade.


Estamos em um cenário no qual se discute se o candidato X é filho de quem, trabalhou onde, ou é casado com quem. No entanto, onde está o debate sobre os problemas estruturantes que impactam profundamente a vida dos itaguarenses, como segurança, vulnerabilidade, renda, educação, entre outros?

Na minha perspectiva, os dados do Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) de 2020 servem como um guia valioso para os temas que deveriam ser abordados no debate público. Neste texto, explorarei alguns desses indicadores, buscando contribuir de alguma forma para qualificar a discussão. O IMRS é uma iniciativa relevante da Fundação João Pinheiro que avalia os resultados da gestão pública em termos sociais.


A figura a seguir apresenta a pontuação de Itaguara nas dimensões de Saúde, Educação, Vulnerabilidade, Segurança Pública e Meio Ambiente.



O gráfico a seguir sintetiza a distribuição dos municípios de Minas Gerais de acordo com o indicador apresentado. Observa-se à direita do gráfico, o valor do município. À esquerda do gráfico, observa-se os valores: (a) menor valor encontrado dentre todos os municípios mineiros, (b) o valor do primeiro quartil, abaixo do qual se encontram 25% dos municípios, (c) o valor da mediana, abaixo da qual se encontram 50% dos municípios, (d) o valor do terceiro quartil, abaixo do qual se encontram 75% dos municípios; e (e) o maior valor observado.



Perceba que o município de Itaguara possui uma média de 0,700 no IMRS, acima da mediana estadual. No entanto, esses dados são influenciados positivamente pelo IMRS de saneamento básico. Excluindo esse componente da equação, Itaguara teria uma mediana média em relação ao estado, atingindo 0,629. Em um planejamento de médio a longo prazo, Itaguara deveria ser orientada a buscar indicadores acima da mediana estadual. Pois, como disse Lewis Carroll, "Se você não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve."


Para além dos indicadores do IMRS, devemos nos orientar por aspectos estruturais relacionados ao emprego e renda, uma vez que a falta de oportunidades é um problema crônico na cidade. Abaixo, podemos verificar a média salarial de 1,6 salários mínimos em Itaguara, uma das mais baixas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).



 O desafio do desenvolvimento econômico ultrapassa o escopo deste texto; no entanto, algumas indicações podem guiar essa discussão. Por exemplo, o valor agregado é um termo usado em economia para descrever a distribuição da riqueza produzida por uma entidade aos elementos que contribuíram para sua produção. No contexto de uma cidade ou município, isso pode se referir à forma como a riqueza gerada localmente é distribuída entre diferentes setores, como agricultura, indústria, serviços, etc. O gráfico "Distribuição do Valor Agregado"(DVA) ilustra os resultados de Itaguara nessa métrica.



A composição da Distribuição do Valor Agregado de Itaguara demonstra a grande dependência do município em setores de baixo valor agregado, como serviços e administração pública. Não existem indústrias ou outras atividades econômicas expressivas que gerem maior riqueza para o município.


Porém, qual é o caminho a ser seguido? Qual seria a melhor forma de gerar desenvolvimento econômico para a cidade ou estamos satisfeitos em manter o status quo? Esse é um questionamento importante que devemos abordar com os candidatos à prefeitura de Itaguara.

 

Na minha perspectiva, Itaguara precisa se desenvolver economicamente. Temos a vantagem de uma localização privilegiada, próximo a polos industriais e com facilidade de escoamento pela BR-381. Além disso, contamos com acesso a escolas técnicas e faculdades na região. Acredito que temos plenas condições de nos integrarmos melhor às cadeias produtivas regionais.


Em suma, pode-se concluir que Itaguara enfrenta desafios relevantes em seu desenvolvimento econômico e social. O município apresenta indicadores medianos em áreas como educação e saúde, além de níveis baixos em segurança pública e renda. Além disso, há pouca geração de valor agregado na economia local.


Ao mesmo tempo, a cidade conta com um cenário político apático, com pouca participação popular e pluralidade de ideias. As eleições municipais de 2024 surgem como uma oportunidade para mudar essa realidade, trazendo mais candidatos à prefeitura. No entanto, é preciso que o debate público avance, passando a discutir propostas concretas para os problemas estruturais de Itaguara.


Os candidatos precisam se posicionar sobre como atrair investimentos, integrar a cidade às cadeias produtivas regionais, gerar emprego e renda para a população, melhorar indicadores sociais como educação, saúde e segurança. Apenas com visão de longo prazo, metas ambiciosas e planos factíveis de governo será possível reverter o atual cenário de estagnação econômica e social em Itaguara. As eleições de 2024 representam uma chance de mudança que não pode ser desperdiçada.


Dionatan Resende cursa Engenharia de Computação no IFMG e atua como desenvolvedor back-end. Além disso, é pesquisador autônomo na área de Inteligência Artificial (IA), com diversos artigos técnicos publicados. É também um entusiasta do Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND) proposto por Ciro Gomes. E-mail: dionatanderesende@gmail.com

1 comentário

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Sensacional este artigo! Claro e objetivo,concernente a nossa política municipal e com base na realidade de nossa cidade , com relação as demais citadas no artigo. Concordo em número,gênero e grau... Itaguara precisa de renovação urgente em todas essas áreas a muito tempo defasado, temos que sair da "casinha" ,pois a nossa realidade de hoje é "monótona" e tudo que é monotonia, (vai virar o mais do mesmo) As Estatísticas estão clara, contra fatos não existe argumento! Sou morador a 34 anos de itaguara, e sei que ela tem grande capacidade de crescer e desenvolver de forma centralizada e equilibrada! Pense nisso e sucesso...

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